quinta-feira, 1 de abril de 2010

Torta de Chocolate

Traz-se dedicação, e pela navalha do desgosto e do descontentamento do que se ama o coração é dilacerado.

-Por que me feres?
-Porque te amo.
-Por que me amas?
-Porque és minha promessa de completude.
-Por que te completo?
-Por não ser o que sou.
-O que tu és?
-Forte.
-E o que sou?
-Frágil e fraco.
-Por que sou fraco?
-Porque me amas.
-Por que te amo?
-Porque te firo.
-Por que me feres?
-Por que te amo.

Chegou em casa, como fazia de costume, às exatas 21:15. Tirou o par de tênis surrados que ganhara havia um ano, de sua madrinha pelo aniversário de 19 anos, marrons, cor da lama que pisara no caminho de casa, marrom como os seus olhos, como a madeira tabaco da porta que acabara de abrir. Foi para a cozinha preparar o jantar como todos os dias fazia para a pessoa que tanto amava, que chegaria, pontualmente, às 22:30.
Caminhava à passos largos pelo corredor de paredes longas que o separava do cômodo aonde realizaria a sua magia. Aonde prepararia sua poção do amor, a torta de chocolate, servida como sobremesa da adorada torta de carne moída.
Chegando à cozinha viu-se às caras com os azulejos, a lâmpada acesa, o fogão de sempre, branco e sem graça com a chama do canto direito “entupida” por um acidente anterior com gordura. Viu o seu reflexo na bancada de granito, e em seu reflexo as olheiras dos dias anteriores, viu o nervosismo das provas que tivera estampados em sua cara, das pequenas letras que juntas formavam as avaliações formais que tanto temia. Via, ainda, naquela bancada de mármore a barba, a maldita barba que a cada dia crescia mais, a desgraçada da barba da qual o seu amor sempre reclamava. O cabelo desgrenhado lhe saltava aos olhos, mas a vontade de arrumar era menor que os estragos posteriores que a gordura daquele fogão iriam causar-lhes.
Mas não, somente, de desgosto e auto-repulsa era feito aquele seu olhar para a lisa e brilhante bancada de granito amarelada, ali já havia feito amor, ali já havia provado do néctar do prazer entre duas almas e ali já havia dito eu te amo enquanto suavemente seu corpo era afagado pelo toque de seu amor. Aquela bancada na qual amassava e cortava suas massas de biscoito já havia presenciado momentos de amor, carinho, ternura, raiva, medo, angustia e desespero.
Lembrava-se da última massa de biscoito, para a torta de chocolate, que amassara ali, a massa engordurada que impregnava as suas mão e as fazia rançosas daquela forma que somente ele podia odiar tanto, mas de nada lhe importava, pois a tão deliciosa torta era para seu amor, que nem mesmo de doces gostava, pois para ele era somente mais uma sobremesa para acompanhar a tão desejada torta de carne moída que gostava de comer gelada. Lembrava-se da forma que espalhava o creme de chocolate por cima da superfície da bancada para que o mesmo esfriasse mais rápido e, assim, houvesse tempo para que a torta ficasse pronta enquanto a de carne moída assava. Da forma como misturava a geléia à massa de bolo de chocolate amargo para que ambos entrasse em um equilíbrio de sabores enquanto a bendita torta de carne moída ficava na geladeira para finalizar o processo que a deixaria perfeita para o paladar de seu amor,e ,assim, ao final da refeição pudesse ser servida a torta de chocolate, a sobremesa, ou o que fosse.
Do que adiantava tanto investir na torta de chocolate que ao paladar do ser que tanto amava era apenas mais um doce enjoativo. Do que adiantava tentar aperfeiçoar um doce para alguém que tanto gostava de sal. Nada, absolutamente nada. Mas era o seu amor, e isso importava. Havia sim uma torta de carne moída, mas o gesto estava na torta de chocolate e por isso sempre continuaria a aperfeiçoá-la, sempre adicionaria um ingrediente que a tornaria ainda mais gostosa. E por mais que não superasse a torta de carne moída ali estaria o seu amor, e sempre ali estaria, em uma enjoativa e repetitiva, porém delicada torta de chocolate.


Uma fatia de torta de chocolate as vezes só pode ser engolida por quem a faz com uma xícara de chá da erva de Platão, podendo tornar-se esta a sua última fatia de torta de chocolate.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Blood


Sangue



E pelo seu corpo escorre tão vermelho tecido.
Vermelho como a fúria que a pouco corria em suas veias.
Desliza com textura fluida e contorna os seus traços.
E ,pelo seu rosto, segue enquanto seus olhos aos poucos se fecham.

Vai pelo chão manchando o tapete persa de vermelho.
Chegando aos cacos da garrafa de vinho, antes atirada contra a parede.
O carpete ,antes azul, torna-se rubro como a paixão.
Paixão que antes sentira e que agora lhe escorre pelas mãos.

Seus ,finos e delicados, dedos tentam inutilmente tapar a ferida.
Porém, de muito mais fundo escorre a dor.
Não das profundezas de su corpo estirado ao chão,
Mas do âmago de sua alma retalhada pelo ódio.

E em seu último suspiro imagina o que houve,
E pensa nos momentos felizes que viveu,
E pensa nas tristezas que deixou,
Mas seu último pensamento foi...

...Como é linda esta cor vermelha.



(By:Night Angel)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Curse


Maldito Sejas


Sinto em meu peito o ácido dos ciúmes,
Que causados por ti me derretem a alma.
Morrerás tú alvo de meus desafetos,
Bebendo de meu ódio o veneno que sangro.

Sentirás na boca as feridas da língua que desejas,
E dela sorverá a escência de minha maldição.
Pelo corpo que almejas sentirás minha ferroada,
E quando enfim o tiver, morrerá teu coração.

Que no toque aveludado da pessoa que me tomas,
Só encontre a tristeza, o ódio e o desamparo.
Que o medo do desprezo te consuma a juventude.
Que teu espírito pela minha raiva seja dizimado.

Não morrerás, mas buscará a morte.
Não adoecerás, mas ficará no leito.
Serás o primeiro, seguidor do Cristo.
A primeira das vítimas do ódio em meu amor.


(By: Night Angel)

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pain


Dor


Ai, esta maldita dor
que me faz fechar os olhos!
Essa forte dor
que me faz tremer de frio!
Aquela horrível dor
que vai corroendo os ossos!
Ai maldita dor!

Ai, esta aguda dor
que a garganta me aperta!
Essa terrível dor
que me faz arder em ódio!
Aquela enorme dor
que em mim asco acarreta!
Ai suprema dor!

Eu sei que vai passar.
E perecer ,agora, posso não.
E atrás não iriei voltar.
Controlarei meu coração.
Não irei a dor cantar,
Mas buscarei a solução.
Esperarei a dor passar.

Esta terrível dor que se chama solidão.

(by: Night Angel)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Wild



Selvagem


Quando olho com meus ousados olhos em tua clara pele
Sinto dilacerado meu coração pela volúpia que em teu sangue arde,
E tal qual o mais poderoso vinho, me inebria o teu forte cheiro.
Como suave iguaria, sinto o doce e amargo fel de tua boca.
Vejo-me cercado, pelas curvas de teu corpo, preso em meio a lençóis

Me escorre o sangue pela pele rasgada com as garras de teu desejo
E incendiar sinto o meu baixo ventre pela chama que tua alma em mim acende.
Grito, me contorço, me atiro em meio a um vale de carícias e suor.
Me entrego cegamente às vontades que em meus ouvidos são sussurradas
E extasiado navego pela imoralidade de teus ofegantes beijos em minha barriga.

Em meio a maestria de suaves, porém fortes movimentos pontuais e cadenciados
E com acelerados golpes contra minha pélvis, sinto tua matéria por dentro se contorcer.
O ritmo de uma dança selvagem toma conta de tua alcova embalada em gemidos meus e teus.
A sagrada música do profano ritual que dois em um só a união de corpos transforma.
Por fim me vejo em meio ao paraíso que somente o calor infernal do divino pecado leva.

Explosivo, intenso, feroz, selvagem se desprende de mim o fruto de teus desejos,
E como que em divina graça contemplo teu rosto contrair e com ele todo o meu corpo,
E de matéria e alma nos tornamos corpo e sangue de uma mesma vida que renasce.
Abençoados pelo destino o que era dual em uno se metamorfoseou para sempre,
E assim decidiu-se pela vida, pois o que o desejo de amar une somente a morte pode separar.


(by: Night Angel)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

I Want To Heal You



Que eu seja teu remédio



Quando as dores de teus caminhos afligirem a sua fronte

E as tempestades em sua mente ecoarem em tormento,

Que minhas carícias em tua testa de saúde sejam fonte

E meus afagos sejam em ti o alívio dos teus sofrimentos.


Quando as dores da solidão em teus lábios virarem letal veneno

E em teu estômago sentir a apreensão pela falta de companhia,

Que logo esteja em tua boca o antídoto de meus beijos serenos

E que minha alma seja tua cúmplice acompanhado-te todos os dias.


Quando as tuas costas não agüentarem o peso de todo o teu futuro

E a tua cintura cair sob o peso de tua vida, cuja única certeza é a morte

Que os meus braços estejam fortes para ajudar com tão intenso enduro

E a minha alma poderosa para que possa levar por ti o teu fado, tua sorte.


Quando as tuas pernas fraquejarem nas caminhadas do cruel destino

E a fadiga de teus dias de tédio te deixar surdo para meu clamor,

Que meus tendões inchados de vontade te ajudem a continuar seguindo

E as minhas palavras soem como sinos para que saibas de meu amor.


E digo a ti, metade de mim é fogo santo, a outra metade é inferno,

Crepitando em mim esta chama, magma da terra em forma de vulcão.

E toda essa força e calor dedicados a te esquentar enquanto dura teu inverno,

E todo esse amor dado a ti numa mescla de carinho, desejo e paixão.


(by: Night Angel)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Loneliness



Solidão


Corro ao lado de minha alma.
Dentro de mim me perco em labirintos.
Dentro dos abismos da minha mente, a loucura.
Em meus sonhos estrelas caem dos céus.
Sou louco, eu as escuto,
E dos gritos das estrelas saem luz

Corro ao lado de minha alma.
Começa o meu apocalipse interior.
A besta é a minha boca
A prostituta é o meu corpo
Os sete reis, o que sobrou de minha alma.

Corro ao lado de minha alma.
E pelas ruínas da Babilônia o jardim,
Os resquícios de vida que me restaram.
E pelas pirâmides do Egito os desertos,
O que restou do meu coração devastado

Corro ao lado de minha alma.
E somente ao lado dela me contemplo.
Minha alma, observada, sou eu mesmo.
Sou beleza, dor, prazer e escuridão.
Não posso me enganar, minha alma já não existe.
Corro ao lado de mim mesmo, na mais completa solidão.


(by: Night Angel)